Os incêndios estão finalmente extintos em Albergaria-a-Velha, após um período de chuvas intensas que lavou suas brasas. No entanto, mesmo com o fim das chamas, ainda é possível sentir o cheiro de fumaça no ar úmido, proveniente da terra suja de fuligem, dos troncos de árvores queimados, dos carros e casas destruídas, e das poças de água preta e acre. Os números fornecem uma visão da devastação causada pelos incêndios da semana passada neste município português do norte – quatro mortos, pelo menos sete feridos, 25.269 hectares queimados e 81 casas danificadas. No entanto, esses números não conseguem transmitir o sentimento de medo e perda que as chamas de 26 metros de altura trouxeram consigo.
A senhora Maria João Aleluia, de 66 anos, não consegue expressar com precisão o que sente ao olhar para a casa construída pelo seu avô nos arredores da cidade na década de 1950, e que ela ama desde criança. Um engenheiro estrutural irá determinar a extensão dos danos, mas mesmo um olhar não treinado pode perceber o telhado colapsado, as janelas rachadas pelo fogo e as paredes enegrecidas. Aps incapaz de chegar à casa quando os incêndios atingiram a área em 16 de setembro, Aleluia pediu aos vizinhos que lhe enviassem fotos que confirmassem seus medos. Quando finalmente conseguiu chegar à casa dois dias depois, levou consigo grandes garrafas de água na esperança de salvar as raízes das árvores, especialmente sua amada árvore-coração-de-negro, que já havia sobrevivido a muitos incêndios.
Um pouco mais adiante, próximo a dois Mini Coopers queimados e a um Nissan cujo capô e para-choque derreteram para revelar o motor esquelético por baixo, Victor Manuel dos Santos também contabilizava os danos e agradecia pelo alarme de incêndio que havia comprado no Lidl. O alarme o acordou cedo na segunda-feira e ele abriu os olhos para ver as chamas na soleira de sua janela. Dos Santos, de 59 anos, estava bem preparado. Ele pegou o capacete, máscara de gás e óculos que mantinha próximo à cama e começou a combater o fogo, que já havia se espalhado para a sala de armazenamento vizinha, onde ele guardava seus documentos, livros e tintas.
Os incêndios da semana passada, alimentados por fortes ventos, condições secas e temperaturas anormalmente altas de mais de 30°C, mataram nove pessoas, feriram dezenas e queimaram 100 mil hectares de terra no norte e centro de Portugal. Eles também reavivaram as memórias dos incêndios catastróficos de 2017, que causaram a morte de 66 pessoas, e servem como mais um lembrete do impacto da emergência climática na Europa.
Para combater os incêndios futuros, especialistas concordam que é essencial cuidar do uso da terra e do manejo florestal em Portugal. O professor Miguel Bugalho, que leciona conservação florestal e da vida selvagem na Universidade de Lisboa, destaca como a paisagem mudou nas últimas décadas. As terras de uso misto, com cultivo de alimentos e criação de animais, deram lugar a enormes florestas de eucalipto, uma árvore valorizada por seu rápido crescimento e uso nas indústrias de papel e celulose. Quando a paisagem “mosaico” é perdida, explica Bugalho, a terra pode ficar coberta de vegetação proveniente dos pequenos produtores de eucalipto, que não têm recursos para manter suas terras livres da biomassa que alimenta os incêndios.
Domingos Viegas, pesquisador de incêndios e professor na Universidade de Coimbra, ressalta que é fácil culpar os eucaliptos por tudo. Ele afirma que não é simpático em relação aos eucaliptos, mas também não é contra eles. Essa é uma das espécies mais comuns do país, então é necessário encontrar soluções que levem em consideração a diversificação do uso da terra. É importante admitir que os incêndios florestais são sintomas de causas estruturais e socioeconômicas, e é preciso fornecer apoio financeiro para que as pessoas possam manter a vegetação em níveis baixos.
Em resumo, os incêndios florestais em Albergaria-a-Velha deixaram um rastro de destruição e perda, causando impactos profundos nas pessoas e na paisagem. É importante aprender com essas experiências e implementar medidas eficazes de prevenção e manejo florestal, levando em consideração tanto os aspectos ambientais quanto socioeconômicos. Somente assim será possível proteger vidas, propriedades e o meio ambiente contra os incêndios.
Seção de Perguntas Frequentes (FAQ):
1. Quais foram os danos causados pelos incêndios em Albergaria-a-Velha?
– Os incêndios resultaram em quatro mortes, sete feridos, 25.269 hectares queimados e 81 casas danificadas.
2. O que os incêndios reavivaram?
– Os incêndios reavivaram as memórias dos incêndios de 2017, que causaram a morte de 66 pessoas, e destacaram o impacto da emergência climática na Europa.
3. Quais são as mudanças na paisagem que contribuíram para os incêndios?
– As terras de uso misto foram substituídas por extensas florestas de eucalipto, uma árvore valorizada por seu rápido crescimento e uso na indústria de papel e celulose.
4. Por que a perda da paisagem “mosaico” pode ser problemática?
– A perda da paisagem “mosaico” permite que a vegetação proveniente de pequenos produtores de eucalipto se espalhe e aumente o risco de incêndios.
5. Qual a importância da diversificação do uso da terra?
– É necessário encontrar soluções que levem em consideração a diversificação do uso da terra, além de admitir que os incêndios florestais são sintomas de causas estruturais e socioeconômicas.
Links relacionados sugeridos:
– Lidl
– Universidade de Lisboa
– Universidade de Coimbra