Baga: O Futuro da Uva Indígena Portuguesa

Portugal é lar de mais de 300 variedades de uvas nativas. Felizmente, o país finalmente começou a aproveitar mais delas. Tradicionalmente associado aos vinhos fortificados e doces do Porto, Portugal tem transcendido essas associações e destacado seu potencial em torno de inúmeras variedades indígenas pouco conhecidas que agora estão sendo exploradas.

Entre as descobertas mais empolgantes dessa revolução não estão as famosas vinhas do Douro ou a verdejante região do Vinho Verde, mas sim a remota região costeira de Bairrada, localizada no extremo norte do país, entre o frio Atlântico e as montanhas da região do Dão. Historicamente conhecida como a principal produtora de vinhos espumantes pelo método clássico de Portugal, a área parecia ser um improvável berço para o que alguns consideram a próxima uva de destaque do país. Porém, para um pequeno, mas crescente grupo de especialistas, é exatamente isso que a uva Baga – a principal uva tinta de Bairrada – se tornou.

Em pouco mais de uma década, essa variedade de pele fina e amadurecimento tardio, frequentemente comparada a uvas exigentes como Pinot Noir e Nebbiolo, tem conquistado aos poucos uma legião de fãs. Embora seja conhecida por ser difícil de cultivar, quando tratada com atenção e cuidado, a uva produz vinhos tintos complexos, envelhecíveis e de uma elegância, transparência e frescor de clima frio incomuns.

“É estruturado, é salivante, é puro – e independentemente do estilo, há sempre esse final salgado e mineral”, explica Eduardo Porto Carreiro, vice-presidente de bebidas dos restaurantes Rocket Farm, na região metropolitana de Atlanta. Como um dos primeiros defensores da uva Baga, ele acredita que ela está seguindo a mesma trajetória que alavancou carreiras de outras uvas consideradas “it” em outros países, como a Mencía na Espanha ou a Pelaverga e Nerello Mascalese na Itália.

“Todos os elementos estão se alinhando para que a uva Baga tenha um ponto de virada ainda maior nos próximos anos”, afirma Porto Carreiro. De fato, com o aumento notável de rótulos disponíveis no mercado americano, esse processo parece já estar em andamento, oferecendo ao público dos EUA uma oportunidade ainda maior de se familiarizar com a uva.

A Chegada de Novos Estilos e Tipos de Vinhos de Baga

Em 2018, o crítico de vinhos do New York Times, Eric Asimov, lamentou que “não havia tantos vinhos de Bairrada disponíveis em Nova York”. Isso ocorria em parte porque, na época, a reputação da Baga dependia quase exclusivamente de uma única família.

Quem já conhece os famosos tintos longevos de Luis Pato, um patriarca que resgatou a uva do esquecimento nos anos 80, sabe muito bem sobre os vinhos de Bairrada. Hoje em dia, suas duas filhas, Filipa – da Filipa Pato e William Wouters Wines – e Maria, com seu projeto intitulado Duckman, seguem adiante com sua visão. Além disso, o lendário produtor do Douro, Dirk Niepoort, que adquiriu a Quinta de Baixo, em Bairrada, em 2012, também desempenhou um papel fundamental na definição da identidade da uva para uma geração de profissionais do vinho nos Estados Unidos.

Porém, cada vez mais eles não estão sozinhos. De acordo com Lewis Kopman, da selecionadora nova-iorquina Grossberg/Kopman Selections, que se destaca entre um novo grupo de importadores especializados em vinhos portugueses de pequena produção, não é surpresa que tenham chegado aos EUA uma seleção mais ampla de vinhos feitos com a uva Baga.

“Com tantas regiões tradicionais e caras de vinhos finos se tornando tão astronomicamente caras, mais importadores estão procurando outras opções que proporcionem uma experiência semelhante”, diz Kopman. “A Baga de Bairrada não é a mesma coisa que um Borgonha ou um Barolo, mas possui alta qualidade, com aquela mistura etérea de fruta e complexidade salgada encontrada nos grandes vinhos tintos do mundo”.

Não mais restritos a algumas referências de nicho, os rótulos encontrados nas prateleiras atualmente representam o nascimento de uma categoria completa, com uma gama de estilos estéticos e comerciais. Além da tradicional empresa Caves São João (com seus rótulos Frei João e Poço do Lobo), existem também antigas propriedades familiares, como a Quinta das Bágeiras e a Casa de Saima, além de um grupo de produtores independentes que estão impulsionando a mudança na região. Entre esses produtores, destacam-se talentos como Tiago Teles da Gilda, Luís Patrão e Eduarda Dias da Vadio, Luís Gomes da promissora Giz, em Bairrada, Nuno Mira do Ó da Mira do Ó Vinhos e Anselmo Mendes, uma lenda do Vinho Verde, criador do projeto Kompassus, e muitos outros.

Como resultado, os fãs da uva Baga agora podem encontrar uma gama de estilos muito mais diversificada do que nunca. A Baga, descobriu-se, possui uma amplitude que varia desde vinhos jovens e fáceis de beber, que podem ser resfriados, até os clássicos tintos estruturados, capazes de envelhecer por décadas. Sem mencionar as conhecidas versões espumantes (blanc de noirs e rosés), que prestam homenagem aos solos calcários de Bairrada.

“Não há exatamente um consenso sobre a melhor forma de se fazer vinhos com a uva Baga”, destaca Kopman, ressaltando a qualidade camaleônica que considera inerente à uva. “Os produtores tendem a abordar a uva com a mente aberta e há muita experimentação acontecendo. Mas acho que é isso que torna Bairrada um lugar tão empolgante”.

Baga como um Reflexo do Terroir de Bairrada

As frequentes comparações da Baga com Pinot Noir e Nebbiolo assumem uma importância ainda maior no contexto do papel histórico da variedade na região de Bairrada. Assim como suas contrapartes borgonhesas e piemontesas, a uva é sensível às sutilezas do local e do solo, servindo como um prisma cristalino para traduzir as peculiaridades do terroir.

Em um país com uma cultura de mistura de uvas muito arraigada, a Baga de Bairrada oferece um exemplo raro de uma região que expressa sua identidade por meio de uma única variedade. De acordo com Filipa Pato, uma das pioneiras, assim como seu pai, na produção de vinhos Baga de vinhedo único e específico, o próximo capítulo da evolução de Bairrada será uma maior delimitação das subzonas e microclimas da região.

“A diferença pode ser percebida no trabalho com os vinhedos”, diz Pato. “Em cada local, com diferentes solos e microclimas, a uva Baga expressa uma personalidade e caráter distintos. É fascinante acompanhar como o terroir de Bairrada se revela nesses vinhos”.

À medida que o mercado mundial continua a descobrir a uva Baga e a Bairrada, os produtores e enólogos estão explorando novas fronteiras com essa variedade distintiva, oferecendo vinhos cada vez mais complexos e cativantes. Se a tendência atual se mantiver, Bairrada e a uva Baga têm um futuro promissor pela frente, ganhando reconhecimento global e se consolidando como uma das mais emocionantes e interessantes regiões vitivinícolas de Portugal.

Perguntas frequentes sobre a uva Baga e a região de Bairrada:

1. O que é a uva Baga?
A uva Baga é uma variedade nativa de Portugal, especialmente encontrada na região de Bairrada. É uma uva tinta de pele fina e amadurecimento tardio, conhecida por produzir vinhos tintos complexos, envelhecíveis e com frescor.

2. Como é a região de Bairrada?
Bairrada é uma região costeira localizada no extremo norte de Portugal, entre o oceano Atlântico e as montanhas do Dão. Historicamente conhecida por seus vinhos espumantes, a região está ganhando destaque como produtora de vinhos tintos de alta qualidade.

3. Quais são os produtores notáveis de Baga em Bairrada?
Além do renomado produtor Luis Pato, conhecido por seus vinhos longevos, outros produtores notáveis de Baga em Bairrada incluem Filipa Pato, William Wouters Wines, Duckman e Quinta de Baixo, do produtor Dirk Niepoort.

4. Quais são os estilos de vinhos produzidos com a uva Baga?
A uva Baga oferece uma gama diversificada de estilos de vinho. Desde vinhos jovens e fáceis de beber até tintos estruturados capazes de envelhecer por décadas, além de versões espumantes blanc de noirs e rosés.

5. A uva Baga reflete o terroir de Bairrada?
Sim, assim como as uvas Pinot Noir e Nebbiolo em outras regiões, a uva Baga é sensível às particularidades do terroir de Bairrada. Ela expressa a identidade da região através de suas características únicas, como a composição do solo e o clima local.

Links relacionados:
Wine-Searcher – Bairrada
Vinhas de Portugal – Bairrada